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crianças em nossa EBF |
Na semana passada realizamos uma EBF (Escola Bíblia de Férias - Jesus,
Meu Melhor Amigo) para as crianças em nossa igreja e, neste
sábado, iniciaremos um Clube Bíblico para elas, portanto, foi impossível não
pensar sobre o ministério infantil na igreja e, conversando como minha esposa
Débora, alguns pensamentos sobre este tipo de trabalho na atualidade me vieram
a mente e gostaria de compartilhá-los aqui:
1. A Duração da programação: Não sei se
estou ficando velho (ainda estou com 33 anos...) ou se devido aos anos no
ministério e a realidade de ter três filhos, não conseguimos imaginar uma EBF
com mais de três dias de duração. No início de nosso ministério e quando eu era
criança e adolescente, as EBFs duravam cinco ou seis dias, incluindo o domingo.
Algumas igrejas ainda fazem assim, entretanto, na nossa realidade atual, três
dias de programação intensa são mais que suficientes, aliás, no terceiro dia já
estamos BEM cansados... Além disso, parece impossível manter a atenção e
participação das crianças por mais tempo que isso.
2. A Equipe: Outra realidade que
observamos foi a necessidade de uma grande, e boa, equipe. Nossa equipe era de
quatro irmãos nos dois primeiros dias e de cinco no terceiro, além de uma irmã
que ajudou enviando o lanche em dois dias. Passamos um certo “sufoco” para
cuidar de toda a programação com eficiência e qualidade, e olha que as crianças
presentes não passaram de vinte. Deus sabe o que faz, pois convidamos muito
mais do que isso.
Fico pensando numa EBF grande com 50, 100, 150 crianças. Sem uma grande
e ativa equipe, fica praticamente impossível realizar um bom trabalho e cuidar
dos pequeninos.
3. A Desconfiança e desinteresse dos pais e
responsáveis: Algo que marcou muito durante a EBF e até agora me
deixa triste foi a forma como os pais e responsáveis das crianças tratavam
nossos convites e a programação em si: Com total desinteresse e um imensa
desconfiança.
Devido a isso, poucas crianças chegaram, apesar do grande número de
convites. Totalmente diferente das EBFs que realizávamos em Vargem Bonita pois,
mesmo sendo uma cidade bem menor (2.000 haitantes para 35.000 em Piumhi), nunca
tivemos um número menor que 50 crianças, e isto no domingo quando muitas delas
iam para a beira do rio São Francisco ou para as roças (chácaras, sítios ou fazendas) com seus pais. Nossa
média lá era de 70 crianças facilmente.
Mesmo buscando nas casas, muitas crianças não puderam chegar devido a
proibição dos pais que, ou diziam não abertamente ou mentiam falando que
levariam a criança depois ou que a criança não queria participar (sendo que
estava na nossa frente sorrindo e toda empolgada...).
Fiquei mais triste por nossa filha Agnes que convidou várias amigas da
escola e os pais mentiam ou diziam não para ela. Sofri ao vê-la desapontada,
mas tentei ensiná-la que será assim daqui para frente, e ainda pior, ao
tentarmos falar de Jesus para as pessoas.
Dentro disso, outro ponto marcante é o interesse da vizinhança em geral,
seja adultos ou crianças, com a EBF acontecendo, balões/bexigas para todo lado,
cartazes, crianças com coroas coloridas, músicas, balas, etc, ninguém
demonstrava o mínimo interesse ou curiosidade. As pessoas passam pela rua como
se nada estivesse acontecendo, poucos olham na direção da igreja e nenhum deles
vem procurar sabe do que se trata.
Entendo que muitos pais estão protegendo seus filhos, têm medo que algo
aconteça diante de tanta maldade no mundo e outros temem os “evangélicos”
devido ao horrível testemunho dado por igrejas e pessoas que se dizem cristãs,
mas que só envergonham o nome de cristão. Realmente, como missionário tenho
sentido na pele a dificuldade de trazer, não apenas crianças, mas adultos ou
jovens aos cultos e programações da igreja. Só Deus para mudar os corações.
4. As Crianças: Por fim, uma última
realidade que chamou a nossa atenção foi a postura dos próprios pequeninos,
muito diferente das crianças de nossa época, ou mesmo, de poucos anos atrás:
a- Desinteresse e desatenção: Desde o momento do
convite, até a programação em si, era notável o grande desinteresse da
criançada. Muitos nem ligaram para o convite, outros recebiam mas sem reação
positiva alguma e, mesmo entre os que vieram, vários estavam desinteressados,
não queriam cantar, só queriam ficar sentados, não ligavam para as atividades e
mesmo para os prêmios. Além disso, alguns ficavam bem distraídos, olhando para
o nada ou observando fixamente elementos que não faziam parte da programação,
como o telhado, uma borboleta, a parede, etc.
Creio que isso seja muito devido ao fácil acesso a todo tipo de
entretenimento que as crianças possuem, muitos brinquedos, atividades,
recreações, bem como a forma como são criadas hoje, quase sempre dentro de
casa, constantemente a frente da TV, do computador, do tablete ou do celular,
do videogame, tendo pouca interação interpessoal, bem como o secularismo e o
desprezo por atividades consideradas religiosas.
Pelo que vejo, em lugares mais pobres ou mais sofridos, as EBFs e
ministérios com crianças alcançam um grupo bem maior. Amigos meus, que são
missionários em Moçambique –África, compartilham seus ministérios infantis no
Facebook e podemos ver centenas de crianças participando. Infelizmente,
para nós a realidade vai mudando aos poucos e precisamos nos adaptar.
b- Falta de competitividade: Em minha época
de criança, nós lutávamos por nosso time nas EBFs, convidávamos os amigos e
conhecidos, decorávamos os versículos, nos esforçávamos nas brincadeiras,
gritávamos, torcíamos, enfim, literalmente “dávamos o sangue” para vencer. Mas
hoje isso mudou, poucos se importam em ganhar as competições, em trazer
visitantes ou decorar os versículos. Agem de modo que, se ganhar ou perder,
tanto faz. Quase não existe competitividade e precisamos ficar motivando e
tentando animá-los a se movimentarem e fazerem alguma coisa para vencer.
Confesso: Isso é muito estranho...
c- Falta de coordenação motora: Ligado a questão
anterior, notamos bastante a falta de coordenação motora em algumas crianças ou
a dificuldade de participarem de brincadeiras que envolviam corrida,
equilíbrio, senso de direção ou agilidade. Isso é fácil de associar ao estilo
de vida da maioria das crianças na atualidade: Pouco ou nenhum exercício
físico, falta de brincadeiras em grupo ou nenhuma prática de esportes.
Conclusão: Todas estas considerações
foram feitas por Débora e por mim nestes dias, algumas durante a EBF e outras
depois. Mas o trabalho foi feito e continuaremos a pregar o evangelho de Cristo
às crianças e a trabalhar com elas até o fim.
Sei que não podemos generalizar, mas creio ser esta a tendência do
trabalho infantil nas igrejas, sejam elas projetos missionários ou já bem
estabelecidas. Portanto, se em algumas localidades o acesso as crianças ainda é
fácil, precisamos aproveitar e lançar a santa semente do evangelho.
Enfim, independente da postura das crianças e de seus pais, todos são
amados por Deus e carentes da graça de Cristo Jesus, precisam ser objetos do
nosso amor e esforço e o alvo de nossas orações e pregação do evangelho. Temos
que enfrentar as dificuldades, lutar, correr atrás, ouvir muitos não e, mesmo
assim, continuar, sempre lembrando do nosso chamado e de nossa missão, olhando
para Cristo e para a eternidade.
Por isso, juntamente com os demais ministérios infantis que já desenvolvemos na igreja, nosso objetivo com o Clube Bíblico é, além de ensinar às crianças a Palavra de Deus e inculcar nelas o Evangelho de Jesus Cristo, ajudá-las em todas as áreas possíveis, incluindo as brincadeiras, trabalho em equipe, coordenação motora, relacionamentos interpessoais, disciplina, humildade, sacrifício e envolvimento na obra de Deus, além de oferecer à elas um tempo de diversão e amizade saudável e agradável. Por favor, orem por nós!
Que nosso bondoso e gracioso Senhor salve as crianças de nosso país e do
mundo!
“Jesus, porém, disse:
Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino
dos céus.” Mateus 19:14
“E não nos cansemos de
fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.” Gálatas 6:9