quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Reflexão: O Ministério Cristão Infantil na Atualidade

crianças em nossa EBF
Na semana passada realizamos uma EBF (Escola Bíblia de Férias - Jesus, Meu Melhor Amigo) para as crianças em nossa igreja e, neste sábado, iniciaremos um Clube Bíblico para elas, portanto, foi impossível não pensar sobre o ministério infantil na igreja e, conversando como minha esposa Débora, alguns pensamentos sobre este tipo de trabalho na atualidade me vieram a mente e gostaria de compartilhá-los aqui:



1. A Duração da programação: Não sei se estou ficando velho (ainda estou com 33 anos...) ou se devido aos anos no ministério e a realidade de ter três filhos, não conseguimos imaginar uma EBF com mais de três dias de duração. No início de nosso ministério e quando eu era criança e adolescente, as EBFs duravam cinco ou seis dias, incluindo o domingo. Algumas igrejas ainda fazem assim, entretanto, na nossa realidade atual, três dias de programação intensa são mais que suficientes, aliás, no terceiro dia já estamos BEM cansados... Além disso, parece impossível manter a atenção e participação das crianças por mais tempo que isso.

2. A Equipe: Outra realidade que observamos foi a necessidade de uma grande, e boa, equipe. Nossa equipe era de quatro irmãos nos dois primeiros dias e de cinco no terceiro, além de uma irmã que ajudou enviando o lanche em dois dias. Passamos um certo “sufoco” para cuidar de toda a programação com eficiência e qualidade, e olha que as crianças presentes não passaram de vinte. Deus sabe o que faz, pois convidamos muito mais do que isso.
Fico pensando numa EBF grande com 50, 100, 150 crianças. Sem uma grande e ativa equipe, fica praticamente impossível realizar um bom trabalho e cuidar dos pequeninos.  

3. A Desconfiança e desinteresse dos pais e responsáveis: Algo que marcou muito durante a EBF e até agora me deixa triste foi a forma como os pais e responsáveis das crianças tratavam nossos convites e a programação em si: Com total desinteresse e um imensa desconfiança.

Devido a isso, poucas crianças chegaram, apesar do grande número de convites. Totalmente diferente das EBFs que realizávamos em Vargem Bonita pois, mesmo sendo uma cidade bem menor (2.000 haitantes para 35.000 em Piumhi), nunca tivemos um número menor que 50 crianças, e isto no domingo quando muitas delas iam para a beira do rio São Francisco ou para as roças (chácaras, sítios ou fazendas) com seus pais. Nossa média lá era de 70 crianças facilmente.

Mesmo buscando nas casas, muitas crianças não puderam chegar devido a proibição dos pais que, ou diziam não abertamente ou mentiam falando que levariam a criança depois ou que a criança não queria participar (sendo que estava na nossa frente sorrindo e toda empolgada...).

Fiquei mais triste por nossa filha Agnes que convidou várias amigas da escola e os pais mentiam ou diziam não para ela. Sofri ao vê-la desapontada, mas tentei ensiná-la que será assim daqui para frente, e ainda pior, ao tentarmos falar de Jesus para as pessoas.

Dentro disso, outro ponto marcante é o interesse da vizinhança em geral, seja adultos ou crianças, com a EBF acontecendo, balões/bexigas para todo lado, cartazes, crianças com coroas coloridas, músicas, balas, etc, ninguém demonstrava o mínimo interesse ou curiosidade. As pessoas passam pela rua como se nada estivesse acontecendo, poucos olham na direção da igreja e nenhum deles vem procurar sabe do que se trata.  

Entendo que muitos pais estão protegendo seus filhos, têm medo que algo aconteça diante de tanta maldade no mundo e outros temem os “evangélicos” devido ao horrível testemunho dado por igrejas e pessoas que se dizem cristãs, mas que só envergonham o nome de cristão. Realmente, como missionário tenho sentido na pele a dificuldade de trazer, não apenas crianças, mas adultos ou jovens aos cultos e programações da igreja. Só Deus para mudar os corações.

4. As Crianças: Por fim, uma última realidade que chamou a nossa atenção foi a postura dos próprios pequeninos, muito diferente das crianças de nossa época, ou mesmo, de poucos anos atrás:

a- Desinteresse e desatenção: Desde o momento do convite, até a programação em si, era notável o grande desinteresse da criançada. Muitos nem ligaram para o convite, outros recebiam mas sem reação positiva alguma e, mesmo entre os que vieram, vários estavam desinteressados, não queriam cantar, só queriam ficar sentados, não ligavam para as atividades e mesmo para os prêmios. Além disso, alguns ficavam bem distraídos, olhando para o nada ou observando fixamente elementos que não faziam parte da programação, como o telhado, uma borboleta, a parede, etc.

Creio que isso seja muito devido ao fácil acesso a todo tipo de entretenimento que as crianças possuem, muitos brinquedos, atividades, recreações, bem como a forma como são criadas hoje, quase sempre dentro de casa, constantemente a frente da TV, do computador, do tablete ou do celular, do videogame, tendo pouca interação interpessoal, bem como o secularismo e o desprezo por atividades consideradas religiosas.

Pelo que vejo, em lugares mais pobres ou mais sofridos, as EBFs e ministérios com crianças alcançam um grupo bem maior. Amigos meus, que são missionários em Moçambique –África, compartilham seus ministérios infantis no Facebook  e podemos ver centenas de crianças participando. Infelizmente, para nós a realidade vai mudando aos poucos e precisamos nos adaptar.

b- Falta de competitividade: Em minha época de criança, nós lutávamos por nosso time nas EBFs, convidávamos os amigos e conhecidos, decorávamos os versículos, nos esforçávamos nas brincadeiras, gritávamos, torcíamos, enfim, literalmente “dávamos o sangue” para vencer. Mas hoje isso mudou, poucos se importam em ganhar as competições, em trazer visitantes ou decorar os versículos. Agem de modo que, se ganhar ou perder, tanto faz. Quase não existe competitividade e precisamos ficar motivando e tentando animá-los a se movimentarem e fazerem alguma coisa para vencer. Confesso: Isso é muito estranho...

c- Falta de coordenação motora: Ligado a questão anterior, notamos bastante a falta de coordenação motora em algumas crianças ou a dificuldade de participarem de brincadeiras que envolviam corrida, equilíbrio, senso de direção ou agilidade. Isso é fácil de associar ao estilo de vida da maioria das crianças na atualidade: Pouco ou nenhum exercício físico, falta de brincadeiras em grupo ou nenhuma prática de esportes.

Conclusão: Todas estas considerações foram feitas por Débora e por mim nestes dias, algumas durante a EBF e outras depois. Mas o trabalho foi feito e continuaremos a pregar o evangelho de Cristo às crianças e a trabalhar com elas até o fim. 

Sei que não podemos generalizar, mas creio ser esta a tendência do trabalho infantil nas igrejas, sejam elas projetos missionários ou já bem estabelecidas. Portanto, se em algumas localidades o acesso as crianças ainda é fácil, precisamos aproveitar e lançar a santa semente do evangelho.

Enfim, independente da postura das crianças e de seus pais, todos são amados por Deus e carentes da graça de Cristo Jesus, precisam ser objetos do nosso amor e esforço e o alvo de nossas orações e pregação do evangelho. Temos que enfrentar as dificuldades, lutar, correr atrás, ouvir muitos não e, mesmo assim, continuar, sempre lembrando do nosso chamado e de nossa missão, olhando para Cristo e para a eternidade.

Por isso, juntamente com os demais ministérios infantis que já desenvolvemos na igreja, nosso objetivo com o Clube Bíblico é, além de ensinar às crianças a Palavra de Deus e inculcar nelas o Evangelho de Jesus Cristo, ajudá-las em todas as áreas possíveis, incluindo as brincadeiras, trabalho em equipe, coordenação motora, relacionamentos interpessoais, disciplina, humildade, sacrifício e envolvimento na obra de Deus, além de oferecer à elas um tempo de diversão e amizade saudável e agradável. Por favor, orem por nós!

Que nosso bondoso e gracioso Senhor salve as crianças de nosso país e do mundo!

“Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus.” Mateus 19:14  
“E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.” Gálatas 6:9

10 comentários:

REUEL disse...

Que Deus continue abençoando o ministério de vocês. Temos enfrentado algo parecido por aqui, porém não só com o desinteresse das crianças, mas de todos. Mas como disse, vamos continuar pregando a Palavra.

Luiz Miguel de Souza Gianeli disse...

Olá Pastor Reuel. Sim, infelizmente é a triste realidade de nossos dias. E, com certeza, pela graça de Deus, vamos continuar firmes até o fim, pregando e ensinando o Palavra. Que o Senhor também abençoe a vida e o ministério de vocês. Forte abraço!

Anônimo disse...

É verdade pastor. Está havendo um desinteresse generalizado. Até mesmo de pais crentes, membros da igreja. Não fazem questão de trazer seus para o clube Bíblico e nem para o culto durante a semana. Mais precisamos continuar com a graça e misericórdia do Senhor. O resultado é com Ele. A Ele toda glória!!

Luiz Miguel de Souza Gianeli disse...

Exato, e esta realidade é ainda mais desesperadora, pois se trata de crentes, dos que deveriam viver diferentes, fazer a diferença. Infelizmente o esfriamento espiritual tem sido grande. Precisamos orar e pregar a Palavra, confiando que o Espírito Santo mude o coração do seu povo, renovando a fé, o amor e o compromisso. Seu comentário apareceu como anonimo, por favor, me diga quem é. Abraços!

Patrícia Silva disse...

Pr. Miguel, concordo com suas palavras.
Já havia percebido os mesmos desafios que relacionou. Diria que é necessário aprimorarmos nossas metodologias e didáticas no que se refere a educação cristã infantil... mas referente ao comportamento de filhos e pais, torna-se mais difícil obter resultados.

Compartilhando a experiência em Moçambique:
Aqui ainda não chegou a tecnologia que prende as crianças em casa... eles tem no máximo celulares. Crianças, em sua maioria, principalmente nos bairros, vivem a brincar nas ruas, a correr descalço, a brincar nos quintais das casas.
São crianças desprovidas de quase tudo, então, tudo torna-se novidade. Uma história bíblica é algo novo, um flanelógrafo atraí os olhares, cartazes coloridos, laminas, desenhos para pintar... tudo é muito bem vindo.
São muito participativos, conseguem ficar uma hora sentados (se necessário na esteira) ouvindo a história (e falo de crianças de 6, 7 anos).
Aqui ainda existe respeito quando chamamos atenção... já não são como antes, pois a "modernidade" tem adentrado nos lares através de novelas que vem do Brasil (para nossa vergonha e tristeza).
Os pais ficam contentes de saber que os filhos estão na igreja, pois a maioria trabalha e passa o dia fora.
A dificuldade maior é relacionada a aprendizagem, pois há um baixo rendimento escolar, e maioria das crianças não sabem ler e escrever, ou não conseguem uma interpretação textual, o que dificulta o ensino bíblico.

Temos desafios como no Brasil, pessoas rejeitando o evangelho, outras insensíveis ao Espírito Santo, outras proibindo seus filhos de seguirem a Cristo... mas não na intensidade que nosso país vive.
Outro problema é ter uma equipe para ajudar no ministério infantil. Leva-se tempo para discipular um jovem ou adulto. O que mais temos são crianças... clube bíblico tem média de 40... isso porque não divulgamos por falta de espaço... e quanto mais crianças, são necessários mais ajudadores!
Espero ter ajudado em algo compartilhando um pouquinho do ministério aqui.

Deus vos abençoe e dê forças para o ministério proposto! Abraços
Patrícia

Luiz Miguel de Souza Gianeli disse...

Olá irmã Patrícia. Muito obrigado pela contribuição. O que você falou é realmente o que imaginava sobre Moçambique e que bom que vocês têm aproveitado de forma excelente esta oportunidade. Agora vamos orar pela salvação destas crianças tão especiais. Aqui no Brasil vai ficando difícil, mas não impossível, temos que nos adaptar, mas manter a fidelidade e mensagem salvadora de Cristo. No fim, sabemos que é o Senhor em sua soberania, amor e graça que salva os pecadores. Deus continue abençoando vocês e suprindo a necessidade de mais obreiros. Forte abraço!

Unknown disse...

Interessante reflexão pastor! Em meio a tudo isso vemos que o que realmente uma estratégia interessante seria o compromisso verdadeiro da Igreja com sua comunidade. A Igreja precisa se fazer conhecer de maneira verdadeira. Vejo que em muitos locais as pessoas mal sabem que ali existe uma Igreja, não sabem quem são seus pastores, seus membros, etc. A Igreja precisa se envolver mais (não estou falando de se tornar uma ONG), se apresentar, procurar criar relacionamentos e se fazer conhecer. Muitas só abrem as portas 2 ou 3 vezes na semana por apenas algumas horas e não fazem diferença nenhuma no local onde estão inseridas. Com relação as crianças realmente é o reflexo da nossa época e o clube bíblico é uma maneira de ajuda-los a se desenvolverem em sua totalidade (mental, física e espiritual). Por isso gosto dos jogos, pois proporcionam um desenvolvimento em áreas tão carentes de atenção hoje em dia.

Grande abraço!

Luiz Miguel de Souza Gianeli disse...

Olá irmão André, muito obrigado pela contribuição. É verdade o que você falou sobre o envolvimento da igreja na comunidade, mas é difícil os crentes entenderem e praticarem isso... Temos tentando fazer diferente aqui em Piumhi e, aos poucos, nos envolvendo mais com a vizinhança. Nosso objetivo é tornar a igreja bem conhecida, um referencial no bairro e, se Deus permitir, na cidade. Sobre os jogos, aprendemos o valor deles quando tínhamos o Clube Oanse em nossa igreja em Caçapava-SP, eles são muito úteis. Sobre os jogos de mesa, nossas filhas gostaram muito do Dobble, jogam odos os dias e também o Uno e Blink. Tem sido muito divertido e elas vão se desenvolvendo em várias áreas. Forte abraço para toda família!

Renata Mota disse...

Olá pastor! Entao.. Eu tenho a experiência de tres tipos de lugares: minha igreja na capital do estado, a congregação da minha igreja no interior do estado (um municipio pequeno) e igreja em uma aldeia indígena. As três sao completamente diferentes. A mais triste é na capital. Realmente as ebfs que fizemos aqui sao bem pequenas.. As crianças bem desinteressadas e os pais nao queriam mandar suas crianças. Ja no imterior, ano passado tive a experiência de fazer uma ebf com 70 a 80 crianças. Creio que só conseguimos esse resultado pq ao convida-las demos um desenho e se fosse entregue pintado no dia de abertura, a criança ganharia uma premiaçao. Nas aldeias indígenas é bem diferente. Lá alem dos pais, as crianças tem nossa atençao e interesse. Cheguei a participar de uma ebf com 150 crianças e só com dois ou três professores para tomar conta. Eles sao bem quietos. Creio que é pq ainda sao crianças. Nas aldeias vemos muitas crianças brincando na rua ou tomando banho no rio. Nao estao em casa presas a coisas eletronicas, até pq nao têm acesso. Mas pastor... Aprendi algo com tds essas experiências: todo esforço conta para que uma alma entenda o plano de salvaçao. Nao estou dizendo de conversao, até pq muitas crianças podem até ter feito uma decisao, mas voltam aos seus lares incredulos e sua pequena fé é sufocada pela falta de investimento dos pais. Mas sua alma um dia ouviu. Ela nao vai esquecer que um dia participou quando criança de uma programçao na igreja. Pode ser que esqueça as historias, músicas e brincadeiras, mas creio que a noçao de que Deus existe nao sairá dela. Pode ser que realmente ela entenda o plano de salvaçao e dez anos depois busque respostas e ache a verdade em alguma igreja... Nao sabemos... Mas creio que o trabalho com ebfs, sao simplesmente semeaduras. Semeamos em muitos corações e Deus dará o crescimento. Ja fiquei desmotiva algumas vezes com ebfs pequenas.. Mas quando lembro que naqueles momentos, através das musicas, versiculos e histórias, nós estamos levando essas crianças ao conhecimento de Deus e de Jesus Cristo. Deus dará o crescimento. Mas antes precisamos semear. Que Deus abençoe vcs!!

Luiz Miguel de Souza Gianeli disse...

Boa tarde irmã Renata. Muito obrigado pela resposta. Foi justamente como imaginei. É bem interessante refletir sobre a realidade de vocês. O que concluo é que em cidades grandes e médias o trabalho com crianças vai diminuindo e ficando cada vez mais difícil, e vai aumentando e gerando mais interesses nas cidades menores e, por fim, nos lugares mais afastados e mais podres. Realmente temos que nos adaptar a cada realidade, perseverar, pregar e pregar, sempre orando e confiando no amor e soberania de nosso bondoso Deus.
Os frutos sempre virão, poucos ou muitos, rápidos ou demorados, mas virão, na eternidade veremos com certeza.
vale a pena continuar, por amor a Jesus e as almas perdidas.Continuem sempre firmes. Deus vos abençoe!