Diante disso, muitos tem pensado se conseguirão passar sãos e salvos por tudo isso, se, de fato, aguentarão tamanha aflição ou mesmo se estarão vivos quando a pandemia passar, se é que vai... E para nós, cristãos, não é diferente. Os lockdowns e o isolamento social, as igrejas fechadas, a distância dos irmãos, a impossibilidade de evangelismo ao ar livre, cultos nos lares e eventos e, infelizmente, a perda de familiares e irmãos queridos, dentre eles, tantos pastores, missionários e obreiros, trazem sobre nós um misto de sentimentos e um mar de aflições e grandes dúvidas sobre o fim da jornada...
eu doente no seminário |
Lembro-me dos anos no seminário, durante os quais, em duas ocasiões, precisei lutar com sérios problemas de saúde, um deles, relacionado a pedras nos rins, fez com que eu perdesse um semestre, obrigando-me a voltar para casa e me tratar. Foram dias difíceis, de dor, perdas, decepções e frustrações e, para alguns, eu não chegaria ao final do curso.
Numa dessas ocasiões, não lembro exatamente qual, um grande amigo, Guto, hoje pastor como eu, veio até o dormitório me visitar. Eu estava de cama, medicado e com dores, refletindo sobre a vida e orando a Deus por direção e ali, numa breve conversa entre as aulas, Guto me lembrou de Marcos 4 e 5 e da ocasião na qual Jesus acalmou a tempestade. Mas não focou na tempestade ou no medo dos discípulos, mas nas palavras de Jesus aos discípulos. Uma lição que trago comigo até hoje:
* No capítulo 4 verso 35 lemos: "Naqueles dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem."
- No intervalo disso temos a despedida da multidão, a viagem de barco, o temporal assustador, o desespero dos discípulos, Jesus dormindo, os discípulos acordando o mestre e acusando-o de não se importar, o Senhor acalmando a tempestade e cobrando a falta de fé dos seus seguidores e o espanto dos mesmos sobre quem, de fato, era Jesus. Mas a beleza do texto está nos detalhes:* No capítulo 5 versículo 1 lemos: "Entrementes, chegaram à outra margem do mar, à terra dos gerasenos."
Em Mateus 28:18-20 Jesus nos ordenou irmos por todo o mundo e fazermos discípulos e prometeu estar conosco todos os dias até a consumação do século, assim como estava com os discípulos no barco que sofria os ataques dos ventos e das ondas. Ali Ele dormia, pois em sua humanidade, estava cansado e precisava renovar as forças para continuar sua missão, mas permanecia presente.
E nós precisamos aprender que, mesmo que Jesus pareça dormindo em meio aos temporais que enfrentamos, Ele não está, e podemos ter certeza disso ("É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel - Salmo 121.4) e nos conduzirá até onde for Sua perfeita vontade.
Após alguns meses, pela graça de Deus, retornei ao seminário, anos depois, conclui meu curso e já fazem mais de quinze anos que estamos pregando o evangelho e ensinando as Escrituras no campo missionário (não sem enfrentar outros e terríveis temporais...).
A convicção que precisamos ter é que aquele que nos salvou por Seu amor, provado na cruz, está ao nosso lado e nos sustentará até o fim. Por maiores e mais fortes que sejam as ondas e as rajadas de ventos, por mais dolorosas que sejam as perdas, o luto, os medos e as incertezas, Jesus é maior, é Soberano, tem todo o poder e, "entrementes" nos levará até a outra margem.
Mas e a morte? Pode ser que nossa missão termine nesses dias e a morte nos alcance, se assim for, de qualquer forma, chegaremos a outra margem, não mais para lutar, mas para, enfim, descansar nos braços do amado e ressurreto Salvador e Senhor Jesus. E será maravilhoso!
Amados, por pior que seja o temporal, a tempestade ou a crise, com Jesus, "entrementes", chegaremos à outra margem, seja para continuar a jornada da vida cristã, ou para desfrutar da glória eterna ao lado do Senhor.
Deus seja louvado!
Pr. Luiz Miguel
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